Ninguém é capaz de oferecer mais carinho e estímulo
do que uma vovó. E agora, esse amor está sendo propagado entre
continentes, com avós britânicas contando histórias via Skype para
crianças a milhares de quilômetros, na Índia.
Jackie Barrow ainda não é uma avó, mas como uma
professora aposentada, ela julgou que estaria qualificada ao ver um
anúncio no jornal The Guardian convocando voluntários para ajudar a ensinar crianças na Índia por meio da internet.
Elas adoram e estão muito envolvidas com a experiência. Jackie aproveita para mostrar, por meio da webcam, um ovo de páscoa para mostrar às crianças como a Grã-Bretanha celebrou seu recente feriado.
The Granny Cloud Project (Projeto Vovó em
Nuvens) é a criação de Sugata Mitra, mais conhecido pelo seu projeto de
computador que levou PCs para algumas das partes mais pobres da Índia. O
projeto agora já está sendo reproduzido em outros países e chegou até à
América do Sul.
A ideia surgiu quando Mitra percebeu que o
computador que tinha em seu escritório, no sul de Déli, chamava a
atenção das crianças que viviam em uma favela em frente.
Ele deixou com que algumas delas passassem a mexer na máquina e ficou maravilhado com a rapidez no aprendizado.
Dentro de poucos dias, as crianças eram capazes
de navegar pela internet, copiar e colar, arrastar itens e criar pastas.
As crianças gostam de desenhar, usando, por exemplo, o programa
Microsoft Paint para criar suas pinturas.
Em seguida, elas passaram a fazer o download de
jogos. No segundo mês, já haviam descoberto arquivos musicais em MP3 e
começaram a baixá-los.
Incentivo de vovó
O professor Mitra notou que elas se saíam melhor
quando um adulto estava presente para lhes dar conselhos e oferecer
incentivo. Ele pensou que ninguém poderia ser mais incentivador do que
uma vovó.
O nome oficial do projeto é Sole (abreviação para self-organized learning environments
- ambientes de aprendizagem auto-organizados), mas é mais conhecido
como Vovó nas Nuvens, uma referência aos projetos de computação em nuvem
(em inglês, cloud computing), que visam compartilhar recursos e dados de forma remota, por meio da internet.
As vovós, ou e-mediadores como elas são chamadas
oficialmente, não são professoras, no sentido clássico, e as sessões
que elas realizam não são aulas convencionais. Em vez disso, as vovós
leem histórias para as crianças e falam sobre temas relevantes para elas
e assuntos ligados à Grã-Bretanha.
De acordo com Sugata Mitra, elas são capazes de
estimular e valorizar as crianças e assim agir como ''vovós virtuais''
para as crianças.
Jackie vive em uma área rural a 24 quilômetros
de Manchester - um outro mundo em relação a Pune. ''Nós falamos sobre o
meu jardim. Na primavera, eu mostro a elas fotos das ovelhas no campo,
perto da minha casa e, no inverno, retratos da neve. Se vou a Londres,
levo fotos minhas por lá. Elas adoram.''
As e-mediadoras estimulam umas às outras, mantendo contato por meio de uma página de Facebook e de um conjunto de páginas wiki.
Projeto em expansão
Sugata Mitra diz à BBC que atualmente há cerca
de 300 vovós envolvidas com o projeto e que ele não para de crescer, mas
há também contratempos e Mitra cita-os de forma sincera.
''Após três anos, ainda parece que estamos na
fase piloto. Há uma série de coisas que precisamos resolver. Este tipo
de e-mediação é voltado para colégios não muito bons, mas eles não
querem o projeto. Os professores não têm grande interesse, não há
eletricidade suficiente, há centenas de razões pelas quais não
funciona'', afirmou.
Usar Skype para conectar as avós com as crianças
pode ser barato, mas nem sempre é algo com o qual se pode contar. A
conexão muitas vezes cai, como já ocorreu com Jackie. De acordo com
Mitra, uma em cada dez sessões apresentam um problema.
Inicialmente, as vovós trabalhavam com escolares
de Hydrerabad, onde as diferenças culturais na formação das voluntárias
britânicas e as crianças com as quais elas estavam se conectando logo
se tornaram óbvias.
''As escolas eram predominantemente muçulmanas,
e, olhando para trás, talvez essa não tenha sido a melhor escolha'',
afirma Mitra.
Jackie concorda que religião é um tema sensível e diz fazer o máximo possível para evitar quaisquer referências a religião.
No início, ela comenta que havia uma falta de
entusiasmo generalizada com a empreitada. ''Havia muitos problemas,
Ninguém no colégio parecia preparado para facilitar a realização das
sessões. Os professores constantemente não possuem as qualificações
necessárias, não são competentes com tecnologia, não falam inglês e
talvez se sintam intimidados por esse tipo de intervenção'', afirma.
Agora, as sessões são realizadas com a
participação de um clube que promove sessões após as aulas, chamado
Khelgar, onde uma vasta equipe oferece apoio às crianças.
Entre eles há Suneeta Kulkarni, que conta com o trabalho incrivelmente desafiador de coordenar a empreitada em toda a Índia.
Ela conta que a iniciativa é altamente
recompensadora. ''Já notei fortes diferenças nas crianças. Elas
aprenderam muitas palavras e, agora, quando Jackie, mostra alguma frase
diante da câmera do computador, eles tentam ler as palavras'', afirma.
Ideia exportada
O projeto agora foi estendido para a Colômbia, onde está sendo implementado em quatro escolas.
A iniciativa também vem sendo utilizada em
colégios britânicos. Na cidade de Gateshead, onde o nível de
alfabetização é abaixo da média nacional britânica, escolas britânicas
estão abraçando as ''vovós virtuais'' e fazendo uso de e-mediadores para
envolver as crianças desde as primeiras etapas do processo de aprender a
ler.
''Os professores também adoram, pois podem fazer
pausas para tomar um copo de chá e as crianças ficam muito empolgadas
em ver uma vovó aparecer na tela'', comenta Mitra.
Ele diz estar confiante de que o projeto possa
ser encampado por uma grande organização e ser implementado
mundialmente. ''Em termos de potencial, nós apenas arranhamos a
superfície.
Ele também vê grande potencial em expandir o
papel dos e-mediadores, criando uma ''nuvem de aposentados''. ''Nós
contamos com uma força de trabalho silenciosa, engenheiros aposentados,
médicos, encanadores, todos com muita experiência para compartilhar'',
afirma.
Esse seria, diz ele, um importante salto
cultural na forma com que as populações idosas são vistas. ''Em vez de
perguntar, 'o que podemos fazer por eles?', iremos perguntar 'o que eles
podem fazer por nós?'.''
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/04/120430_vovos_britanicas_india_bg.shtml
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